sábado, 30 de novembro de 2013

Jakobson e o círculo linguístico de Praga (CLP)

O Círculo Linguístico de Praga (CLP) foi fundado em 1926. O I Congresso de Linguistas Eslavos de 1929, em Praga, que reuniu linguistas como Roman Jakobson, Trubetzkoi, e Mathesius, é considerado a base do funcionalismo linguístico.  
Uma das contribuições do CLP diz respeito à noção teleológica de função. Jakobson ampliou as três funções de Karl Bühler, relacionando cada uma a um dos elementos do esquema de comunicação, na conhecida proposta das seis funções da linguagem: emotiva, referencial, conativa, fática, metalinguística e poética.
Roman Jakobson, figura central do Formalismo Russo, havia participado tanto do Círculo Lingüístico de Moscou quanto da Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética (OPOJAZ), em São Petersburgo, antes de mudar-se para a Checoslováquia, em (1920), para fundar o Círculo Lingüístico de Praga em (1926). Os anos formativos de Jakobson foram bastante influenciados pela tradição da Escola Kazan, por Ferdinand Saussure (cujo trabalho foi levado a Moscou por Sergej Karcevskij, em (1917)) e pela forte tradição russa das dialéticas hegeliana e pós-hegeliana
Jakobson enfatiza que o Círculo Lingüístico de Praga está estreitamente ligado às correntes contemporâneas tanto da Lingüística ocidental quanto da lingüística russa: "as realizações metodológicas da lingüística francesa", a fenomenologia alemã (Husserl) e a pretendida síntese das escolas polonesa (de Courtenay) e russa (Fortunatov). É importante observar que Jakobson definiu sua teoria da estrutura da linguagem em contraste com a de Saussure, que ele considerava tanto demasiadamente abstrata quanto demasiadamente estática. "Jakobson tratou as formulações dicotômicas (langue/parole, sincronia/diacronia) de Saussure de uma forma dialética, insistindo na estreita relação entre forma e significado, em uma situação de sincronia dinâmica (WAUGH & MONVILLE-BURSTON, 1990, p. 9)"
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Os estudos linguísticos no Brasil - Quem foi Mattoso Câmara?

Linguista brasileiro, Joaquim Mattoso Camara JR. nasceu a 13 de abril 1904, no Rio de Janeiro, e faleceu a 5 de fevereirode 1970, na mesma cidade. Em 1926, ocupou o cargo de desenhador na Inspetoria de Águas e Esgotos, função que viriaa abandonar definitivamente em 1937.
Formou-se em Arquitetura, pela Escola Nacional de Belas Artes, em 1927, e em 1928 começou a lecionar as disciplinas de Português e Latim no Colégio Pedro II e em outras escolas particulares do Riode Janeiro. Por desejo do pai, o economista político Joaquim Mattoso Duque Estrada Camara, formou-se em Direito em1934, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Entretanto, o seu percurso como professor de linguística só viria a consubstanciar-se quando, em 1937, completou licenciatura em Filologia Latina e Neolatina, pela antiga Universidade do Distrito Federal. Um ano depois, ocupou acategoria de Professor-Adjunto na mesma universidade e instaurou o ensino da linguística, muito influenciado à epoca pelos estudos de linguística descritiva dos linguistas contemporâneos Roman Jakobson e Leonard Bloomfield. 

Em 1942, Mattoso Camara publicou o primeiro compêndio de linguística geral em língua portuguesa, à semelhança delinguistas de renome como André Martinet: Princípios de Linguística Geral. Em 1943, Mattoso Camara ganhou uma bolsade estudos da Fundação Rockefeller que lhe permitiu fazer uma especialização em linguística na Universidade de NovaIorque, onde foi aluno de Louis Gray e Roman Jakobson. Em 1948, tornou-se pioneiro no ensino da linguística estruturalna Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, embora só em 1962, a disciplina de linguística tenha sido inseridanos currícula dos cursos de Letras por decisão do Conselho Federal de Educação.
Em 1949, Mattoso Camara concluiu Doutoramento em Letras Clássicas pela Faculdade Nacional de Filosofia daUniversidade do Brasil com a dissertação: Para o estudo da fonêmica brasileira, acerca do uso coloquial da variantedialetal falada no Rio de Janeiro. Este trabalho implicava já a assunção do método descritivista de análise das línguas,segundo os princípios do estruturalismo, embora o autor também defendesse a gramática normativa por ser importantepara o ensino escolar da língua. 

Mattoso Camara recebeu, em 1952, o título de livre-docente de língua portuguesa com a tese Para a contribuição daestilística da língua portuguesa. Foi também o responsável pelo primeiro curso de pós-graduação em linguística do Brasile deu início aos estudos descritivistas das línguas indígenas. Veio mais tarde a lecionar na Universidade Santa Úrsula, naPUC-Rio e na Universidade Católica de Petrópolis, onde permanece guardada desde 1971 a Coleção Mattoso Camara,constituído pelo seu espólio com cerca de 6500 peças, de onde se destaca a volumosa correspondência trocada entre olinguista e outros professores e linguistas estrangeiros. 

Mattoso Camara participou sempre em associações científicas, congressos e simpósios. Integrou o ProgramaInteramericano de Linguística e Ensino de Línguas (Pilei), a Associação de Linguística e Filologia da América Latina (Alfal)e foi membro fundador Academia Brasileira de Filologia, da Associação Brasileira de Linguística (Abralin) e da AcademiaBrasileira de Filologia. Foi também um dos membros fundadores do Círculo Linguístico de Nova York formado em 1943 como alargamento da École Libre des Hautes Études, organizada por um grupo de belgas e franceses refugiados donazismo da Segunda Guerra Mundial. Mattoso Camara participou no 1.º Simpósio Luso-brasileiro sobre a línguaportuguesa contemporâneo onde recebe reconhecimento internacional. Em 1967, foi o único latino-americano a fazerparte dos doze membros do Comité Internacional Permanente de Linguistas (1967). 

Mattoso Camara teria recebido o Prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, como homenagem ao seuinequívoco contributo à língua portuguesa, se não fosse a notícia inesperada da sua morte a 5 de fevereiro de 1970. 
A obra deixada por Mattoso Camara no domínio dos estudos de linguística geral, largamente influenciada pelas correnteseuropeias do funcionalismo de André Martinet, tornou-o uma referência incontornável nos estudos de linguísticaportuguesa. A tónica de modernidade científica e metodológica que colocou em cada assunto permitiu perceber a línguacomo um todo, como uma estrutura definida pela relação entre os seus constituintes e pelas funções por elesdesempenhadas.


                                       

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Jayme de Almeida: Uma Análise

A pacificidade discursiva.
A figura “treinador” é bastante caracterizada pelo discurso que o mesmo toma posse, definindo a postura e ao modelo de jogo de um clube em questão. Para um maior entendimento dos rumos onde encaminharei, vale destacar a apropriação discursiva de técnicos de regiões distintas, ao passarem pela mesma situação:
No ano de 2013, o técnico Renato Gaúcho (Grêmio) e Jayme de Almeida (Flamengo), foram insultados pelas torcidas com os gritos de “Burro”. Ao responderem ao fato ocorrido, ambos utilizaram elementos discursivos intrinsecamente divergentes. Isso remete ao fato de que, a formação ideológica também se é definida pela condição geográfica em que o enunciador é inserido. A partir de tal fato, destaquemos tal discurso produzido por Jayme de Almeida após a conquista do título da Copa do Brasil de 2013:
“Quem decide mesmo quem joga, são os jogadores. Então a gente foi lá, fez a festa. Fui lá... abracei. Emocionante! Eu fiquei muito emocionado, mas deixa os meninos fazerem a festa, até porque eles são mais jovens, ‘dá’ pra dar a volta olímpica, carregar a taça, eu já não aguento mais isso tudo não (risos). Mas assim, ser campeão pelo Flamengo... é muito legal, mais muito legal mesmo, você não tem ideia. Vou guardar esse título no fundo do meu coração, principalmente por tudo que nós passamos e a gente foi desacreditado, mas a gente sempre acreditou, então, é mais gostoso ainda. A gente ficou fechadinho, e fomos trabalhando, trabalhando, e quando começaram a perceber que o Flamengo era forte, nós já estávamos na final praticamente [...]”
            
O enunciado extraído acima foi retirado da coletiva pós-jogo no dia 28/11/2013. A postura discursiva presente em Jayme denota a característica presente no treinador ao longo de sua jornada como comandante do clube rubro-negro. Tais escolhas lexicais e determinados segmentos suprassegmentais - como a articulação de segmentos trepidantes em final de oração, por exemplo – são característicos em seu discurso e o insere em determinada formação discursiva.
Como colocado anteriormente, Jayme de Almeida é um treinador nascido e criado no Rio de Janeiro (casa do CRF), inserindo-se então, em determinada formação ideológica, que são materializadas explicitamente em seu discurso. Jayme é conhecido por apropriar-se de um discurso não muito comum para um treinador brasileiro. A figura de um técnico com elementos discursivos que denotam pacificidade são as marcas que o caracterizam.
A presença de tais elementos como a tripidância segmental e a utilização de um conjunto lexical em meio a um conjunto limitado (levando em consideração a uma memória discursiva, a um conjunto de ‘já ditos’, pelos treinadores brasileiros), perante a cadeia parafrástica disponível (conjunto de elementos lexicais que se assemelham à formação discursiva em questão), denotam o carinho e a paixão pelo clube, algo puramente extracampo.
Assim como Andrade, Jayme teve uma passagem gloriosa como jogador do time rubro-negro, demonstrando então, uma postura discursiva que possuem determinadas consonâncias, isso devido ao fato de que, em determinados períodos, ambos partilhavam de uma mesma formação ideológica, ou seja, ambos (pensando no sentido amplo) partilham de uma mesma carga histórico-ideológica onde atuam com um papel de: ex-jogadores do Flamengo, que tiveram a oportunidade de assumir a função de treinador etc. Tais elementos definem (em nível parafrástico) as escolhas lexicais que envolvem seu discurso, fazendo com que cada elaboração de um enunciado se especifique a formação discursiva em que está inserido.