A pacificidade discursiva.
A figura “treinador” é bastante caracterizada pelo
discurso que o mesmo toma posse, definindo a postura e ao modelo de jogo de um
clube em questão. Para um maior entendimento dos rumos onde encaminharei, vale destacar a apropriação discursiva de técnicos de regiões
distintas, ao passarem pela mesma situação:
No ano de 2013, o técnico Renato Gaúcho (Grêmio) e
Jayme de Almeida (Flamengo), foram insultados pelas torcidas com os gritos de
“Burro”. Ao responderem ao fato ocorrido, ambos utilizaram elementos discursivos
intrinsecamente divergentes. Isso remete ao fato de que, a formação ideológica
também se é definida pela condição geográfica em que o enunciador é inserido. A partir de tal fato, destaquemos tal discurso produzido por Jayme de Almeida após a conquista do título da Copa do Brasil de 2013:
“Quem decide mesmo quem joga, são os jogadores.
Então a gente foi lá, fez a festa. Fui lá... abracei. Emocionante! Eu fiquei
muito emocionado, mas deixa os meninos fazerem a festa, até porque eles são
mais jovens, ‘dá’ pra dar a volta olímpica, carregar a taça, eu já não aguento
mais isso tudo não (risos). Mas assim, ser campeão pelo Flamengo... é muito
legal, mais muito legal mesmo, você não tem ideia. Vou guardar esse título no
fundo do meu coração, principalmente por tudo que nós passamos e a gente foi desacreditado,
mas a gente sempre acreditou, então, é mais gostoso ainda. A gente ficou
fechadinho, e fomos trabalhando, trabalhando, e quando começaram a perceber que
o Flamengo era forte, nós já estávamos na final praticamente [...]”
O
enunciado extraído acima foi retirado da coletiva pós-jogo no dia 28/11/2013. A
postura discursiva presente em Jayme denota a característica presente no
treinador ao longo de sua jornada como comandante do clube rubro-negro. Tais
escolhas lexicais e determinados segmentos suprassegmentais - como a
articulação de segmentos trepidantes em final de oração, por exemplo – são
característicos em seu discurso e o insere em determinada formação discursiva.
Como colocado anteriormente, Jayme
de Almeida é um treinador nascido e criado no Rio de Janeiro (casa do CRF),
inserindo-se então, em determinada formação ideológica, que são materializadas
explicitamente em seu discurso. Jayme é conhecido por apropriar-se de um
discurso não muito comum para um treinador brasileiro. A figura de um técnico
com elementos discursivos que denotam pacificidade são as marcas que o
caracterizam.
A presença de tais elementos como a
tripidância segmental e a utilização de um conjunto lexical em meio a um
conjunto limitado (levando em consideração a uma memória discursiva, a um
conjunto de ‘já ditos’, pelos treinadores brasileiros), perante a cadeia
parafrástica disponível (conjunto de elementos lexicais que se assemelham à
formação discursiva em questão), denotam o carinho e a paixão pelo clube, algo
puramente extracampo.
Assim como Andrade, Jayme teve uma
passagem gloriosa como jogador do time rubro-negro, demonstrando então, uma
postura discursiva que possuem determinadas consonâncias, isso devido ao fato
de que, em determinados períodos, ambos partilhavam de uma mesma formação ideológica,
ou seja, ambos (pensando no sentido amplo) partilham de uma mesma carga
histórico-ideológica onde atuam com um papel de: ex-jogadores do Flamengo, que
tiveram a oportunidade de assumir a função de treinador etc. Tais elementos
definem (em nível parafrástico) as escolhas lexicais que envolvem seu discurso,
fazendo com que cada elaboração de um enunciado se especifique a formação discursiva em que está inserido.
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