quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O social e o cultural – Um resumo da obra de Eni Orlandi In :___O que é línguística. São Paulo : Brasiliense, 2003, p. 50-64

As misturas de línguas e as variações ligadas à localização social e espacial dos falantes têm sido objeto constante de pesquisas e atenção dos estudiosos da linguagem. Dentre as diferentes metodologias, destaquemos:
Sociolinguística → toma a sociedade como causa, mas mantém separado o que é social e o que é linguístico; vê na linguagem reflexos das estruturas sociais; tem como objetivo sistematizar a variação existente na linguagem; sistema da língua heterogêneo e dinâmico;
Etnolinguística → a linguagem como causa das estruturas sociais (ou culturais); a linguagem organiza (constitui) para nós o mundo em que vivemos; teoria (na Alemanha) que toma como central a noção de campo semântico, que se organiza de maneira diferente nas diferentes línguas; nos Estados Unidos, a hipótese Sapir-Whorf, que mostra que a linguagem interpreta a experiência, de tal forma, que as categorias mais profundas do pensamento são diferentes nas diferentes culturas; as diferenças de língua, aqui, instituem as diferenças culturais;
Sociologia da Linguagem → não há separação entre ação linguística e ações sociais; concepção de linguagem enraizada na teoria dos fatos sociais; ela tematiza, então, os poderes da linguagem: magia, rituais religiosos, exatação etc.

Então, de uma concepção de língua como sistema, como arranjo de relações abstratas, se vai passando para uma noção de língua considerada em suas características concretas, de uso, no mundo;
Se a língua não é mais vista como sistema de pensamento, vai-se percebendo que ele também não server apenas para transmitir informações; quando os homens se comunicam, eles fazem muito mais que apenas informar.




Análise do Discurso e Pêcheux: Uma introdução

Sempre preocupou o homem o modo como foi produzido o sentido – resultado do uso da língua no interior da sociedade. Ao longo dos séculos, várias foram as disciplinas que tentaram dar conta da produção do sentido nos discursos. Com este problema, nos idos dos anos 60, várias disciplinas foram criadas, incluindo a AD. Linguistas, historiadores e até psicanalistas renderam-se a esse movimento intelectual que acenava para uma abordagem discursiva atrelada a ideologia.
Nascido em Tours em 1938 e falecido em Paris 1983, fundador da Escola Francesa de Análise do Discurso, Pêcheux entende a linguagem como materializada na ideologia. O discurso é entendido como um efeito de sentidos dentro da relação entre linguagem e ideologia. Através da análise do funcionamento discursivo, ele objetiva analisar as relações entre discurso/ideologia (a inscrição da língua na história), ou seja, explicitar os mecanismos da determinação histórica dos processos de significação. 
Ao longo dos anos, são realizados muitos estudos sobre a langue (oriunda de uma influência saussuriana), parole, variação, competência etc. A partir de então, são introduzidos estudos pragmáticos, enunciativos discursivos e textuais com o objetivo de analisar os diferentes usos linguísticos e seus aspectos teóricos. No Brasil, a partir da década de 70, os estudos que abordam a linguagem humana chegam com diversos âmbitos de análise, como a linguística textual, a semiótica greimasiana e os estudos da Análise do Discurso de orientação francesa.
A AD surgiu na França, em meados dos anos 60, trabalhando com a ideia de o discurso ser entendido como seu objeto próprio. Neste período, as pesquisas acerca da linguística estavam enviesadas por dois polos, o logicismo (ligado ao formalismo) e o sociologismo (ligado ao funcionalismo). Essas duas vertentes não davam conta de responder questões a respeito do sujeito em relação à sociedade, ambas denegavam o aspecto político da língua. O logicismo por interpretar a língua como algo puramente mental, onde possui autonomia em relação ao seu exterior, excluindo o sujeito, e o sociologismo por levar em conta o sujeito empírico (individual e coletivo), excluindo o aspecto sócio-histórico e ideológico.


Oposta ao estruturalismo saussuriano, a AD tenta abrir campo para outros conceitos de língua, além de trazer o sujeito para o centro do novo cenário, uma vez que havia sido excluído dos estudos da linguagem ao longo do percurso estruturalismo. Vale ressaltar que Pêcheux realiza uma reflexão crítica sobre o corte epistemológico saussuriano, no entanto, não menospreza os postulados saussurianos, nem tenta superá-lo, apenas faz uma mudança de enfoque, analisando a parole através da langue, ou seja, enxerga a langue apenas como ponto de partida, nunca como ponto de chegada, deslocando o objeto teórico da langue, para a “parole” (fala). Entretanto, fala para Pêcheux não se refere simplesmente ao ato individual do homem a reproduzir linguagem (exteriorização da langue), mas sim como objeto sócio-histórico, como manifestação de uma determinada ideologia, ou seja, a fala como Discurso.


 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Gerativismo chomskyano e a aquisição da linguagem

O termo gerativismo é usado para refletir à teoria da linguagem que foi desenvolvida, nos últimos vinte anos aproximadamente, por Noam Chomsky e seus seguidores.
Numa perspectiva gerativista, a língua envolve um sistema simbólico, recursivo e que possui unidades que podem ser combinadas infinitamente de forma sequenciada.
São essas características que diferem nossa linguagem da comunicação animal. Apesar de se comunicarem entre si, animais não conseguem desenvolver um sistema recursivo e hierarquicamente estruturado, nem desenvolver um sistema combinatório de sentenças.
A razão dessa limitação no reino animal, de não conseguir adquirir uma língua, não se deve a deficiências meramente mecânicas, mas ao fato dos animais em geral não possuírem uma competência mental para adquirir linguagem.
O ser humano é o único animal á possuir um dispositivo de linguagem, a competência, no cérebro/mente, possibilitando a aquisição da linguagem, logo, é possível concluir: A linguagem é mental e estritamente humana.
O pensamento gerativista considera a competência linguística uma característica inata do ser humano, isto é, a criança já nasce com um determinado conhecimento que possibilita a aquisição da linguagem. Este conhecimento é chamado pelo teórico Noam Chomsky de Gramática Universal.
A Gramática Universal segue um modelo de princípios e parâmetros, aonde a primeira consiste de princípios rígidos e invariáveis, enquanto a outra (parâmetros) consiste de princípios abertos e que oferecem duas possibilidades de valores a serem fixadas, que são observadas ao longo da aquisição da linguagem com base na informação obtida pelo ambiente onde a criança está inserida. Segundo Chomsky, o estudo empírico da linguagem tem mais contribuições a fazer para a filosofia da mente do que a lógica tradicional e a filosofia da linguagem para a linguística. Isso faz uma diferença profunda na maneira pela qual a argumentação é conduzida, mesmo quando o assunto em discussão é reconhecidamente tradicional: por exemplo, se a faculdade da linguagem é ou não inata.
Chomsky baseia a sua argumentação em favor do inatismo e da especificidade da espécie relativos à faculdade da linguagem na universalidade de certas propriedades formais arbitrárias da estrutura linguística. Certos aspectos incluem-se comumente sobre a chamada dependência de estrutura que, apesar de se encontrar também em fonologia e morfologia, é mais obviamente característico na sintaxe. Mesmo defendendo o conhecimento inato, é discutível qual é o tipo de conhecimento que a criança possui em seu nascimento. Alguns pesquisadores acreditam que a criança nasce com a habilidade de adquirir linguagem sem nenhuma informação morfossintática, informação essa que ela fixará mediante ao contato com a língua materna, por outro lado, há quem defenda que a criança nasça com todas as informações morfossintáticas de todas as línguas naturais possíveis e durante a aquisição da linguagem, se utilizando dos parâmetros, descarte as regras não utilizadas por sua língua e fixe as utilizadas.
Usando uma metáfora, como suporte para uma melhor explicação, pensemos nas regras sintáticas e morfológicas de todas as línguas naturais como chaves de uma caixa de disjuntores de lâmpadas, onde estando ligada, a regra está em uso, e quando desligada, não está.
O grande debate cientifico, no momento, é se a criança já nasce com todos os disjuntores ligados, desligando os não utilizados pela sua lingua materna, ou se a criança nasce com todas as chaves dos disjuntores desligados, ligando as utilizadas por sua língua natural.
Recentemente, pesquisadores do Projeto Genoma Humano, descobriram aquele que seria o gene responsável pela capacidade linguística humana, o FOX-P2. Ao analisar indivíduos com defeitos na unidade do DNA do FOX-P2, se constatou que os mesmos possuíam distúrbios sintático-semânticos, isto é, dificuldade em articular pronomes, elaborar orações subordinadas e conjugar verbos.
Essa descoberta seria a constatação cabal do postulado gerativista, exceto por um detalhe, chimpanzés compartilham entre 95 a 98% do DNA do gene, (GESCHWIND, Dan, 2009).
As pesquisas atuais revelam que o FOX-P2 sofreu mutação durante o desenvolvimento do ser humano, propiciando a capacidade para a linguagem. 
No momento, as conclusões se inclinam para a mesma direção das postuladas por Noam Chomsky, a língua sendo um órgão mental e estritamente humano.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A recepção do pensamento saussuriano no mundo

Antes de qualquer coisa, vale destacar os campos de saber cobertos pela reflexão saussuriana.
- Epistemologia - sentido estrito de crítica de uma ciência, questionada os postulados da Gramática Comparada;
- Filosofia da Linguagem - reflexões sobre questões mais gerais acerca dos sistemas de significação humanos;
- Epistemologia pragmática - não analisa as condições de possibilidade de uma ciência existente, mas a aposta numa ciência futura. 

A partir de tais campos de saber, podemos analisar a recepção do pensamento saussuriano no mundo. Ao analisar a recepção de Ferdinand de Saussure na França, podemos destacar 4 momentos. O primeiro momento a partir de Cristhian Puech em 1916, caracterizado como o momento de repulsa, o segundo momento se caracterizado como o momento de expansão,  terceiro momento caracterizado durante o período da Segunda Guerra Mundial onde é definida como o modelo de cientificidade e o quarto momento destaquemos como a busca do verdadeiro Saussure, em 1957.

No Brasil, há pelo menos 2 grades momentos da recepção do pensamento saussuriano. O primeiro, é a pré-tradução do Curso de Linguística Geral; por Mattoso Câmara, em 1941, com o Princípios de Linguística Geral (PGL), que teve uma recepção retificadora, e inclui uma proposta de solução para problemas relacionados intrinsecamente ao CLG.
Um segundo momento que vale ser destacado, é a pós-tradução em português do CLG, em 1969. 

Os três momentos referentes a recepção do pensamento saussuriano no mundo:
- publicação dos manuais e dicionários de linguística (1970 a 1990);
- traduções críticas e relação do CLG (1990 a 2000);
- Edição crítica dos Manuscritos de Saussure (2000 até os dias atuais).


sábado, 30 de novembro de 2013

Jakobson e o círculo linguístico de Praga (CLP)

O Círculo Linguístico de Praga (CLP) foi fundado em 1926. O I Congresso de Linguistas Eslavos de 1929, em Praga, que reuniu linguistas como Roman Jakobson, Trubetzkoi, e Mathesius, é considerado a base do funcionalismo linguístico.  
Uma das contribuições do CLP diz respeito à noção teleológica de função. Jakobson ampliou as três funções de Karl Bühler, relacionando cada uma a um dos elementos do esquema de comunicação, na conhecida proposta das seis funções da linguagem: emotiva, referencial, conativa, fática, metalinguística e poética.
Roman Jakobson, figura central do Formalismo Russo, havia participado tanto do Círculo Lingüístico de Moscou quanto da Sociedade para o Estudo da Linguagem Poética (OPOJAZ), em São Petersburgo, antes de mudar-se para a Checoslováquia, em (1920), para fundar o Círculo Lingüístico de Praga em (1926). Os anos formativos de Jakobson foram bastante influenciados pela tradição da Escola Kazan, por Ferdinand Saussure (cujo trabalho foi levado a Moscou por Sergej Karcevskij, em (1917)) e pela forte tradição russa das dialéticas hegeliana e pós-hegeliana
Jakobson enfatiza que o Círculo Lingüístico de Praga está estreitamente ligado às correntes contemporâneas tanto da Lingüística ocidental quanto da lingüística russa: "as realizações metodológicas da lingüística francesa", a fenomenologia alemã (Husserl) e a pretendida síntese das escolas polonesa (de Courtenay) e russa (Fortunatov). É importante observar que Jakobson definiu sua teoria da estrutura da linguagem em contraste com a de Saussure, que ele considerava tanto demasiadamente abstrata quanto demasiadamente estática. "Jakobson tratou as formulações dicotômicas (langue/parole, sincronia/diacronia) de Saussure de uma forma dialética, insistindo na estreita relação entre forma e significado, em uma situação de sincronia dinâmica (WAUGH & MONVILLE-BURSTON, 1990, p. 9)"
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Os estudos linguísticos no Brasil - Quem foi Mattoso Câmara?

Linguista brasileiro, Joaquim Mattoso Camara JR. nasceu a 13 de abril 1904, no Rio de Janeiro, e faleceu a 5 de fevereirode 1970, na mesma cidade. Em 1926, ocupou o cargo de desenhador na Inspetoria de Águas e Esgotos, função que viriaa abandonar definitivamente em 1937.
Formou-se em Arquitetura, pela Escola Nacional de Belas Artes, em 1927, e em 1928 começou a lecionar as disciplinas de Português e Latim no Colégio Pedro II e em outras escolas particulares do Riode Janeiro. Por desejo do pai, o economista político Joaquim Mattoso Duque Estrada Camara, formou-se em Direito em1934, pela Universidade Federal do Rio de Janeiro.

Entretanto, o seu percurso como professor de linguística só viria a consubstanciar-se quando, em 1937, completou licenciatura em Filologia Latina e Neolatina, pela antiga Universidade do Distrito Federal. Um ano depois, ocupou acategoria de Professor-Adjunto na mesma universidade e instaurou o ensino da linguística, muito influenciado à epoca pelos estudos de linguística descritiva dos linguistas contemporâneos Roman Jakobson e Leonard Bloomfield. 

Em 1942, Mattoso Camara publicou o primeiro compêndio de linguística geral em língua portuguesa, à semelhança delinguistas de renome como André Martinet: Princípios de Linguística Geral. Em 1943, Mattoso Camara ganhou uma bolsade estudos da Fundação Rockefeller que lhe permitiu fazer uma especialização em linguística na Universidade de NovaIorque, onde foi aluno de Louis Gray e Roman Jakobson. Em 1948, tornou-se pioneiro no ensino da linguística estruturalna Faculdade de Filosofia da Universidade do Brasil, embora só em 1962, a disciplina de linguística tenha sido inseridanos currícula dos cursos de Letras por decisão do Conselho Federal de Educação.
Em 1949, Mattoso Camara concluiu Doutoramento em Letras Clássicas pela Faculdade Nacional de Filosofia daUniversidade do Brasil com a dissertação: Para o estudo da fonêmica brasileira, acerca do uso coloquial da variantedialetal falada no Rio de Janeiro. Este trabalho implicava já a assunção do método descritivista de análise das línguas,segundo os princípios do estruturalismo, embora o autor também defendesse a gramática normativa por ser importantepara o ensino escolar da língua. 

Mattoso Camara recebeu, em 1952, o título de livre-docente de língua portuguesa com a tese Para a contribuição daestilística da língua portuguesa. Foi também o responsável pelo primeiro curso de pós-graduação em linguística do Brasile deu início aos estudos descritivistas das línguas indígenas. Veio mais tarde a lecionar na Universidade Santa Úrsula, naPUC-Rio e na Universidade Católica de Petrópolis, onde permanece guardada desde 1971 a Coleção Mattoso Camara,constituído pelo seu espólio com cerca de 6500 peças, de onde se destaca a volumosa correspondência trocada entre olinguista e outros professores e linguistas estrangeiros. 

Mattoso Camara participou sempre em associações científicas, congressos e simpósios. Integrou o ProgramaInteramericano de Linguística e Ensino de Línguas (Pilei), a Associação de Linguística e Filologia da América Latina (Alfal)e foi membro fundador Academia Brasileira de Filologia, da Associação Brasileira de Linguística (Abralin) e da AcademiaBrasileira de Filologia. Foi também um dos membros fundadores do Círculo Linguístico de Nova York formado em 1943 como alargamento da École Libre des Hautes Études, organizada por um grupo de belgas e franceses refugiados donazismo da Segunda Guerra Mundial. Mattoso Camara participou no 1.º Simpósio Luso-brasileiro sobre a línguaportuguesa contemporâneo onde recebe reconhecimento internacional. Em 1967, foi o único latino-americano a fazerparte dos doze membros do Comité Internacional Permanente de Linguistas (1967). 

Mattoso Camara teria recebido o Prémio Machado de Assis da Academia Brasileira de Letras, como homenagem ao seuinequívoco contributo à língua portuguesa, se não fosse a notícia inesperada da sua morte a 5 de fevereiro de 1970. 
A obra deixada por Mattoso Camara no domínio dos estudos de linguística geral, largamente influenciada pelas correnteseuropeias do funcionalismo de André Martinet, tornou-o uma referência incontornável nos estudos de linguísticaportuguesa. A tónica de modernidade científica e metodológica que colocou em cada assunto permitiu perceber a línguacomo um todo, como uma estrutura definida pela relação entre os seus constituintes e pelas funções por elesdesempenhadas.


                                       

quinta-feira, 28 de novembro de 2013

Jayme de Almeida: Uma Análise

A pacificidade discursiva.
A figura “treinador” é bastante caracterizada pelo discurso que o mesmo toma posse, definindo a postura e ao modelo de jogo de um clube em questão. Para um maior entendimento dos rumos onde encaminharei, vale destacar a apropriação discursiva de técnicos de regiões distintas, ao passarem pela mesma situação:
No ano de 2013, o técnico Renato Gaúcho (Grêmio) e Jayme de Almeida (Flamengo), foram insultados pelas torcidas com os gritos de “Burro”. Ao responderem ao fato ocorrido, ambos utilizaram elementos discursivos intrinsecamente divergentes. Isso remete ao fato de que, a formação ideológica também se é definida pela condição geográfica em que o enunciador é inserido. A partir de tal fato, destaquemos tal discurso produzido por Jayme de Almeida após a conquista do título da Copa do Brasil de 2013:
“Quem decide mesmo quem joga, são os jogadores. Então a gente foi lá, fez a festa. Fui lá... abracei. Emocionante! Eu fiquei muito emocionado, mas deixa os meninos fazerem a festa, até porque eles são mais jovens, ‘dá’ pra dar a volta olímpica, carregar a taça, eu já não aguento mais isso tudo não (risos). Mas assim, ser campeão pelo Flamengo... é muito legal, mais muito legal mesmo, você não tem ideia. Vou guardar esse título no fundo do meu coração, principalmente por tudo que nós passamos e a gente foi desacreditado, mas a gente sempre acreditou, então, é mais gostoso ainda. A gente ficou fechadinho, e fomos trabalhando, trabalhando, e quando começaram a perceber que o Flamengo era forte, nós já estávamos na final praticamente [...]”
            
O enunciado extraído acima foi retirado da coletiva pós-jogo no dia 28/11/2013. A postura discursiva presente em Jayme denota a característica presente no treinador ao longo de sua jornada como comandante do clube rubro-negro. Tais escolhas lexicais e determinados segmentos suprassegmentais - como a articulação de segmentos trepidantes em final de oração, por exemplo – são característicos em seu discurso e o insere em determinada formação discursiva.
Como colocado anteriormente, Jayme de Almeida é um treinador nascido e criado no Rio de Janeiro (casa do CRF), inserindo-se então, em determinada formação ideológica, que são materializadas explicitamente em seu discurso. Jayme é conhecido por apropriar-se de um discurso não muito comum para um treinador brasileiro. A figura de um técnico com elementos discursivos que denotam pacificidade são as marcas que o caracterizam.
A presença de tais elementos como a tripidância segmental e a utilização de um conjunto lexical em meio a um conjunto limitado (levando em consideração a uma memória discursiva, a um conjunto de ‘já ditos’, pelos treinadores brasileiros), perante a cadeia parafrástica disponível (conjunto de elementos lexicais que se assemelham à formação discursiva em questão), denotam o carinho e a paixão pelo clube, algo puramente extracampo.
Assim como Andrade, Jayme teve uma passagem gloriosa como jogador do time rubro-negro, demonstrando então, uma postura discursiva que possuem determinadas consonâncias, isso devido ao fato de que, em determinados períodos, ambos partilhavam de uma mesma formação ideológica, ou seja, ambos (pensando no sentido amplo) partilham de uma mesma carga histórico-ideológica onde atuam com um papel de: ex-jogadores do Flamengo, que tiveram a oportunidade de assumir a função de treinador etc. Tais elementos definem (em nível parafrástico) as escolhas lexicais que envolvem seu discurso, fazendo com que cada elaboração de um enunciado se especifique a formação discursiva em que está inserido. 

sábado, 5 de outubro de 2013

Funcionalismo x Formalismo

Os estudos linguísticos têm sido cada vez mais presentes nos assuntos teóricos em busca do melhor paradigma para entender as línguas naturais.

           A fins de facilitar a compreensão de tais âmbitos, utiliza-se a seguinte questão: qual a origem da forma da lâmina do machado? A partir de tal questão, explica-se então o fato de que, para a corrente funcionalista, a forma da lâmina possui tal formato para realizar sua função primária (cortar a madeira), ou seja, a forma é definida por sua função. Segundo a corrente formalista, o formato da lâmina é que determina sua função.

A partir de tal análise comparativa, é necessária uma questão fundamental para a caracterização de tais âmbitos: a linguagem tem a forma que tem porque é determinada por suas funções? Ou suas funções é que são “permitidas” pela forma?       Tal questão será levada em análise para ambas as correntes.
Tratando-se de teorias linguísticas, a perspectiva formalista pode ser caracterizada pela preferência que dá ao estudo das línguas naturais enquanto um conjunto de formas que se relacionam entre si no âmbito da sintaxe, que relacionam-se com objetos do mundo no âmbito da semântica, que servem para que os falantes “digam coisas”, expressem seus significados (pragmática).
Em linhas gerais, a corrente formalista tem a ver com a compreensão dos fatos linguísticos enquanto manifestações de um objeto autônomo, que preexiste a fatos das línguas naturais.
Segundo a corrente funcionalista, a linguagem humana deve ser vista como “um instrumento de interação social entre seres humanos, usado para estabelecer comunicação (NETO, J. Borges, 2004, p.85)”, ou seja, na perspectiva funcionalista, a questão básica a ser respondida nada tem a ver com a estrutura ou significado das expressões que envolvem a linguagem (abordagem formalista), e sim os modos pelos quais os falantes conseguem comunicar-se por meio das expressões linguísticas.

Em resumo, o formalismo prioriza a análise das formas linguísticas, enquanto o funcionalismo prioriza a relação sistemática entre essas formas e as funções que desempenham no processo comunicativo. O conflito envolto as duas abordagens se dá pela interpretação se a forma da língua que determina sua função (abordagem formalista) ou se são os usos da língua que determinam sua forma (abordagem funcionalista).

segunda-feira, 30 de setembro de 2013

O Estruturalismo e suas vertentes.

             Aquilo que comumente nos referimos como estruturalismo, especialmente na Europa, tem origem múltipla. É convencional e conveniente datar o seu nascimento como movimento identificável em Linguística a partir da publicação do Cours de linguistique générale de Saussure em 1926.
      O estruturalismo busca estudar a língua estruturalmente, ou seja, uma abordagem linguística por meio de estruturas, ou, podemos pensar em conjuntos de elementos que fazem sentido relacionando-se entre si. O estruturalismo tem como base diversas teorias que partem de pressupostos para explicar a linguagem verbal humana e como ela recorre.
            Uma abordagem linguística estrutural,  é realizada desde a Grécia antiga com reflexões filosóficas baseadas numa argumentação estrutural, inicialmente apresentada em forma da chamada Gramática.
            Dentro do estruturalismo, existem duas vertentes que abordam a linguagem verbal humana de formas opostas: o estruturalismo europeu e o estruturalismo americano
            O estruturalismo americano apresenta uma base originária diferente da europeia. As bases do foco estruturalista americano se deram a partir de estudos das línguas indígenas americanas, que traziam em si diversos problemas teóricos e práticos.
            Essa linha de análise estruturalista tem como principal pesquisador Leonard Bloomfield, que rege o pensamento linguístico na primeira metade do século XXI. Bloomfield coloca a língua como estruturada e a divide em níveis, tendo como os níveis fonológico e morfológico os mais importantes.
            O estruturalismo europeu aborda esta visão com dois princípios básicos, o primeiro deles afirma que os elementos da língua apresentam uma organização ao se interagir, sendo essa absoluta a todos, e chama-se de princípio de estrutura.
            O segundo princípio desta linha estruturalista leva em consideração a organização interna da língua, mostrando a mesma como um sistema fechado que não se explica por fatores que não estão determinados dentro dela mesma.

            Apesar das diferentes abordagens de um modelo estruturalista, é necessário notar que, existem oposições positivas e negativas em relação as duas abordagens. Por um lado, existem autores que defendem que não existe nenhuma integração entre as duas linhas, sendo somente uma questão de homonímia (como apresentado em Lyons), pois ambos são origens de escolas diferentes. 

                    

sábado, 21 de setembro de 2013

A "MENTE"

 "Chomsky foi provavelmente o primeiro a fornecer argumentos detalhados  da natureza da linguagem para a natureza da mente, e não vice-versa (Smith & Wilson, 1979:9)"

Vale realizar uma exposição analítica sobre a utilização do termo "mente" nos vários âmbitos dos estudos sobre a linguagem.
Mente é uma palavra do dia-a-dia. Ao mesmo tempo, trata-se de uma palavra que tem sido empregada há muito tempo com referência ao objeto de um determinado ramo da filosofia, por um lado, e da psicologia, por outro. O seu sentido na linguagem do dia-a-dia é mais restrito - caracterizando-se como lógica, razão, e alguns outros termos - do que o sentido técnico e conceitualizado que tem na filosofia da mente.
A experiência da mente e sua relação com o corpo que habita (ou está associado de alguma forma) constitui um problema filosófico permanente e controvertido.
Tentativas de reformular o chamado problema mente/cérebro, podemos destacar os seguintes: o dualismo, o materialismo, o idealismo e o monismo.
Para a corrente dualista, a mente não apenas existe, mas também difere-se da matéria por ser não-físico;
O materialismo sustenta que nada existe que não seja a matéria; que aquilo que comumente são considerados fenômenos mentais são explicáveis. Uma versão do materialismo é o behaviorismo, segundo o qual não existe uma entidade como a mente e os termos mentalistas (mente, pensamento, emoção, por exemplo) devem ser explicados com referência a determinados tipos de comportamento.
O idealismo nega a existência da matéria e sustenta que tudo que existe é mental.
O monismo proclama que a realidade é uma, ou seja, nem o físico nem o mental é a realidade última: ambos são aspectos diferentes de algo mais neutro e fundamental.
Chomsky reivindica o fato de que a linguagem fornece dados em favor do mentalismo, isto é, em favor de uma crença na existência da mente. Ele afirma que a aquisição e uso da linguagem não podem ser explicados sem recorrer a princípios que geralmente encontram-se além do escopo de qualquer relato puramente fisiológico dos genes humanos. Chomsky não está comprometido com o fato de que a mente é uma entidade não-física distinta do cérebro ou de qualquer parte do corpo. Isso explica o fato de que, em suas argumentações gerativistas, utiliza-se o termo "mind/brain" (mente/cérebro).



Referências: LYONS, J. Introduction to Theoretical Linguistics, Cambridge University Press, 1968.

                    CHOMSKY, Noam. Aspectos da Teoria da Sintaxe. Coimbra: Arménio Amado, 1978.