quarta-feira, 11 de dezembro de 2013

O social e o cultural – Um resumo da obra de Eni Orlandi In :___O que é línguística. São Paulo : Brasiliense, 2003, p. 50-64

As misturas de línguas e as variações ligadas à localização social e espacial dos falantes têm sido objeto constante de pesquisas e atenção dos estudiosos da linguagem. Dentre as diferentes metodologias, destaquemos:
Sociolinguística → toma a sociedade como causa, mas mantém separado o que é social e o que é linguístico; vê na linguagem reflexos das estruturas sociais; tem como objetivo sistematizar a variação existente na linguagem; sistema da língua heterogêneo e dinâmico;
Etnolinguística → a linguagem como causa das estruturas sociais (ou culturais); a linguagem organiza (constitui) para nós o mundo em que vivemos; teoria (na Alemanha) que toma como central a noção de campo semântico, que se organiza de maneira diferente nas diferentes línguas; nos Estados Unidos, a hipótese Sapir-Whorf, que mostra que a linguagem interpreta a experiência, de tal forma, que as categorias mais profundas do pensamento são diferentes nas diferentes culturas; as diferenças de língua, aqui, instituem as diferenças culturais;
Sociologia da Linguagem → não há separação entre ação linguística e ações sociais; concepção de linguagem enraizada na teoria dos fatos sociais; ela tematiza, então, os poderes da linguagem: magia, rituais religiosos, exatação etc.

Então, de uma concepção de língua como sistema, como arranjo de relações abstratas, se vai passando para uma noção de língua considerada em suas características concretas, de uso, no mundo;
Se a língua não é mais vista como sistema de pensamento, vai-se percebendo que ele também não server apenas para transmitir informações; quando os homens se comunicam, eles fazem muito mais que apenas informar.




Análise do Discurso e Pêcheux: Uma introdução

Sempre preocupou o homem o modo como foi produzido o sentido – resultado do uso da língua no interior da sociedade. Ao longo dos séculos, várias foram as disciplinas que tentaram dar conta da produção do sentido nos discursos. Com este problema, nos idos dos anos 60, várias disciplinas foram criadas, incluindo a AD. Linguistas, historiadores e até psicanalistas renderam-se a esse movimento intelectual que acenava para uma abordagem discursiva atrelada a ideologia.
Nascido em Tours em 1938 e falecido em Paris 1983, fundador da Escola Francesa de Análise do Discurso, Pêcheux entende a linguagem como materializada na ideologia. O discurso é entendido como um efeito de sentidos dentro da relação entre linguagem e ideologia. Através da análise do funcionamento discursivo, ele objetiva analisar as relações entre discurso/ideologia (a inscrição da língua na história), ou seja, explicitar os mecanismos da determinação histórica dos processos de significação. 
Ao longo dos anos, são realizados muitos estudos sobre a langue (oriunda de uma influência saussuriana), parole, variação, competência etc. A partir de então, são introduzidos estudos pragmáticos, enunciativos discursivos e textuais com o objetivo de analisar os diferentes usos linguísticos e seus aspectos teóricos. No Brasil, a partir da década de 70, os estudos que abordam a linguagem humana chegam com diversos âmbitos de análise, como a linguística textual, a semiótica greimasiana e os estudos da Análise do Discurso de orientação francesa.
A AD surgiu na França, em meados dos anos 60, trabalhando com a ideia de o discurso ser entendido como seu objeto próprio. Neste período, as pesquisas acerca da linguística estavam enviesadas por dois polos, o logicismo (ligado ao formalismo) e o sociologismo (ligado ao funcionalismo). Essas duas vertentes não davam conta de responder questões a respeito do sujeito em relação à sociedade, ambas denegavam o aspecto político da língua. O logicismo por interpretar a língua como algo puramente mental, onde possui autonomia em relação ao seu exterior, excluindo o sujeito, e o sociologismo por levar em conta o sujeito empírico (individual e coletivo), excluindo o aspecto sócio-histórico e ideológico.


Oposta ao estruturalismo saussuriano, a AD tenta abrir campo para outros conceitos de língua, além de trazer o sujeito para o centro do novo cenário, uma vez que havia sido excluído dos estudos da linguagem ao longo do percurso estruturalismo. Vale ressaltar que Pêcheux realiza uma reflexão crítica sobre o corte epistemológico saussuriano, no entanto, não menospreza os postulados saussurianos, nem tenta superá-lo, apenas faz uma mudança de enfoque, analisando a parole através da langue, ou seja, enxerga a langue apenas como ponto de partida, nunca como ponto de chegada, deslocando o objeto teórico da langue, para a “parole” (fala). Entretanto, fala para Pêcheux não se refere simplesmente ao ato individual do homem a reproduzir linguagem (exteriorização da langue), mas sim como objeto sócio-histórico, como manifestação de uma determinada ideologia, ou seja, a fala como Discurso.


 

segunda-feira, 9 de dezembro de 2013

O Gerativismo chomskyano e a aquisição da linguagem

O termo gerativismo é usado para refletir à teoria da linguagem que foi desenvolvida, nos últimos vinte anos aproximadamente, por Noam Chomsky e seus seguidores.
Numa perspectiva gerativista, a língua envolve um sistema simbólico, recursivo e que possui unidades que podem ser combinadas infinitamente de forma sequenciada.
São essas características que diferem nossa linguagem da comunicação animal. Apesar de se comunicarem entre si, animais não conseguem desenvolver um sistema recursivo e hierarquicamente estruturado, nem desenvolver um sistema combinatório de sentenças.
A razão dessa limitação no reino animal, de não conseguir adquirir uma língua, não se deve a deficiências meramente mecânicas, mas ao fato dos animais em geral não possuírem uma competência mental para adquirir linguagem.
O ser humano é o único animal á possuir um dispositivo de linguagem, a competência, no cérebro/mente, possibilitando a aquisição da linguagem, logo, é possível concluir: A linguagem é mental e estritamente humana.
O pensamento gerativista considera a competência linguística uma característica inata do ser humano, isto é, a criança já nasce com um determinado conhecimento que possibilita a aquisição da linguagem. Este conhecimento é chamado pelo teórico Noam Chomsky de Gramática Universal.
A Gramática Universal segue um modelo de princípios e parâmetros, aonde a primeira consiste de princípios rígidos e invariáveis, enquanto a outra (parâmetros) consiste de princípios abertos e que oferecem duas possibilidades de valores a serem fixadas, que são observadas ao longo da aquisição da linguagem com base na informação obtida pelo ambiente onde a criança está inserida. Segundo Chomsky, o estudo empírico da linguagem tem mais contribuições a fazer para a filosofia da mente do que a lógica tradicional e a filosofia da linguagem para a linguística. Isso faz uma diferença profunda na maneira pela qual a argumentação é conduzida, mesmo quando o assunto em discussão é reconhecidamente tradicional: por exemplo, se a faculdade da linguagem é ou não inata.
Chomsky baseia a sua argumentação em favor do inatismo e da especificidade da espécie relativos à faculdade da linguagem na universalidade de certas propriedades formais arbitrárias da estrutura linguística. Certos aspectos incluem-se comumente sobre a chamada dependência de estrutura que, apesar de se encontrar também em fonologia e morfologia, é mais obviamente característico na sintaxe. Mesmo defendendo o conhecimento inato, é discutível qual é o tipo de conhecimento que a criança possui em seu nascimento. Alguns pesquisadores acreditam que a criança nasce com a habilidade de adquirir linguagem sem nenhuma informação morfossintática, informação essa que ela fixará mediante ao contato com a língua materna, por outro lado, há quem defenda que a criança nasça com todas as informações morfossintáticas de todas as línguas naturais possíveis e durante a aquisição da linguagem, se utilizando dos parâmetros, descarte as regras não utilizadas por sua língua e fixe as utilizadas.
Usando uma metáfora, como suporte para uma melhor explicação, pensemos nas regras sintáticas e morfológicas de todas as línguas naturais como chaves de uma caixa de disjuntores de lâmpadas, onde estando ligada, a regra está em uso, e quando desligada, não está.
O grande debate cientifico, no momento, é se a criança já nasce com todos os disjuntores ligados, desligando os não utilizados pela sua lingua materna, ou se a criança nasce com todas as chaves dos disjuntores desligados, ligando as utilizadas por sua língua natural.
Recentemente, pesquisadores do Projeto Genoma Humano, descobriram aquele que seria o gene responsável pela capacidade linguística humana, o FOX-P2. Ao analisar indivíduos com defeitos na unidade do DNA do FOX-P2, se constatou que os mesmos possuíam distúrbios sintático-semânticos, isto é, dificuldade em articular pronomes, elaborar orações subordinadas e conjugar verbos.
Essa descoberta seria a constatação cabal do postulado gerativista, exceto por um detalhe, chimpanzés compartilham entre 95 a 98% do DNA do gene, (GESCHWIND, Dan, 2009).
As pesquisas atuais revelam que o FOX-P2 sofreu mutação durante o desenvolvimento do ser humano, propiciando a capacidade para a linguagem. 
No momento, as conclusões se inclinam para a mesma direção das postuladas por Noam Chomsky, a língua sendo um órgão mental e estritamente humano.



segunda-feira, 2 de dezembro de 2013

A recepção do pensamento saussuriano no mundo

Antes de qualquer coisa, vale destacar os campos de saber cobertos pela reflexão saussuriana.
- Epistemologia - sentido estrito de crítica de uma ciência, questionada os postulados da Gramática Comparada;
- Filosofia da Linguagem - reflexões sobre questões mais gerais acerca dos sistemas de significação humanos;
- Epistemologia pragmática - não analisa as condições de possibilidade de uma ciência existente, mas a aposta numa ciência futura. 

A partir de tais campos de saber, podemos analisar a recepção do pensamento saussuriano no mundo. Ao analisar a recepção de Ferdinand de Saussure na França, podemos destacar 4 momentos. O primeiro momento a partir de Cristhian Puech em 1916, caracterizado como o momento de repulsa, o segundo momento se caracterizado como o momento de expansão,  terceiro momento caracterizado durante o período da Segunda Guerra Mundial onde é definida como o modelo de cientificidade e o quarto momento destaquemos como a busca do verdadeiro Saussure, em 1957.

No Brasil, há pelo menos 2 grades momentos da recepção do pensamento saussuriano. O primeiro, é a pré-tradução do Curso de Linguística Geral; por Mattoso Câmara, em 1941, com o Princípios de Linguística Geral (PGL), que teve uma recepção retificadora, e inclui uma proposta de solução para problemas relacionados intrinsecamente ao CLG.
Um segundo momento que vale ser destacado, é a pós-tradução em português do CLG, em 1969. 

Os três momentos referentes a recepção do pensamento saussuriano no mundo:
- publicação dos manuais e dicionários de linguística (1970 a 1990);
- traduções críticas e relação do CLG (1990 a 2000);
- Edição crítica dos Manuscritos de Saussure (2000 até os dias atuais).